quarta-feira, 23 de junho de 2010

PEDOCA: PERPÉTUA GLÓRIA MUSICAL DE PIANCÓ

Enlevado e enternecido, ao rever o passado, sinto invadir-me deleitavelmente o espírito extasiante recordação de um doce momento de minha juventude, em que me deliciei com o prazer e o privilégio de ter comigo um vulto de incomparável singularidade artística e humana, Pedoca, o imortal virtuose do saxofone, de que Piancó tanto se orgulha e ufana.

Prazer, por, ao estudar musica com o saudoso maestro Elizeu Veríssimo, contar eu com Pedoca junto a mim, a executar seu mavioso saxofone, cujas notas me enchiam a alma adolescente de inebriante deslumbramento, e inspiravam-me a iniciar-me na arte sublime, que ele, com tanto garbo e mestria, tão desenvoltamente dominava. Privilégio, por privar eu com um homem de tamanha projeção pessoal e profissional, de genialidade e humildade sem par, meigo, cordato, simples, sem laivo algum de vaidade, profundamente altruístico, sempre a buscar meios de minimizar as carências dos necessitados, tão querido e admirado de todos, tão identificado com o Piancó que ele amava tanto.

Admiravelmente romântico, conseguia Pedoca traduzir pela música a máxima expressividade sentimental. Era irresistivelmente delicioso ouvi-lo manejar seu saxofone. Tal a graça e a perfeição com que dominava seu instrumento que este parecia tornar-se uma extensão física e espiritual de seu executante. Um lembrava pertinentemente o outro.

Das crianças aos idosos, todos, tinham carinhosamente Pedoca como um consagrado gênio artístico, não só pelo seu primoroso desempenho musical, senão também pela sua ardente paixão pela música. Piancó inteiro simplesmente o amava muito. E tanto isso ficou evidente na demonstração de pesar de Piancó, no dia de sua morte. Pelas ruas afora, viam-se pessoas a chorar, profundamente compungidas, lamentando a perda de Pedoca. Seu funeral foi, até então, o mais concorrido de Piancó, sinal evidente e inconteste do amor dessa terra a seu tão genial e talentoso representante musical.

Quanto a mim, durante os ensaios de músicas carnavalescas, por vezes executados em sua casa, corria eu pressuroso, à noitinha, a disputar um lugar na janela da sala, para ouvir Pedoca tocar frevos e marchas de tão invulgar beleza, ainda mais graciosamente aprimorada pelas encantadoras notas de seu excelente saxofone. E nas serenatas, e nos aniversários, e nos casamentos, e nos carnavais, lá estava eu, com tantos outros admiradores de Pedoca, a ouvir-lhe, jorradas de seu saxofone, belíssimas músicas, muitas das quais de sua autoria... infelizmente tão relegadas ao esquecimento pelo pauperismo musical de hoje em dia.

Confesso, com profunda admiração, que muito de minha sensibilidade musical devo a Pedoca. Sua ardente paixão pela música, seu requinte musical e incomparável execução do saxofone refinaram-me por demais o espírito, o que vejo refletir-se no esmero e estética da composição de músicas minhas como, dentre outras, Cobre-me, Senhor, com Teu Manto, Jesus Nazareno, A Paz do Senhor, A Fé em Cristo, Sublime Elevação, Palavras de Salvação...
Mas são tantos e tantos os que foram tocados pela magia musical de Pedoca. Convém mencionar dois deles: o renomado maestro Amâncio (Toinho de Dorinha), sem dúvida alguma um dos maiores expoentes da música paraibana, e talvez o mais fervoroso admirador de Pedoca. Confessou-me isso enfaticamente, exprimindo sua profunda amizade a Pedoca e admiração à sua perícia instrumental, bem como quanto lhe devia pela influência artística. Maestro Elizeu Veríssimo, reconhecido na Paraíba como um dos mais elevados vultos da música, e que tanto contribuiu para a profissionalização musical de Piancó, admirava Pedoca arrebatadamente, tendo-o como seu maior ídolo. Cumpre aqui lembrar que seria justo Piancó erguer um memorial a essa tríade, que com tanto brilho o imortalizou musicalmente.

Neste Centenário de Pedoca (5 de julho de 2010), inclino-me reverentemente ante a memória imortal desse insigne vulto da cultura piancoense, modelo artístico e humanístico exemplar, venerável e célebre, cuja fama ecoará pelos séculos futuros, nas suas inefáveis composições, na destreza de quem quer que primorosamente execute um saxofone, na paixão incontida pela música e pelo belo, num gesto fraterno e sincero de solidariedade... Honra-me muito que minhas palavras testemunhem à posteridade o talento artístico e a grandiosidade moral e espiritual desse benemérito gênio, que tanto engrandece cultural e solidariamente Piancó.

O Expoente da Palavra imortaliza o Expoente da Música

Por certo talvez como um providencial desígnio da sorte, deveras feliz para a historiografia de Piancó, quis o destino que Pedoca fosse memorado, em seu centenário, pelo seu não menos talentoso e genial bisneto Yurick Willander de Azevedo Lacerda, que dispõe de todas as virtudes intelectuais necessárias para descrever a pessoa e a vida de seu célebre bisavô.

Só assim deveria ser. É que, para falar da notabilidade de Pedoca, como testemunho para a História, é preciso inteligência, genialidade e apurado senso de beleza, a fim de que as ímpares qualidades daquele destacado virtuose piancoense do saxofone sejam fielmente referidas.

Exímio escritor, eloquente orador, de brilhante versatilidade intelectual e prontidão de raciocínio, ávido de conhecimento, inteligente e perspicaz, Yurick salienta-se como patrimônio cultural da juventude de Piancó, e, como hábil artista que é da palavra escrita, apto está para, literariamente, imortalizar o habilíssimo artista da música, seu bisavô Pedoca.

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