sábado, 16 de maio de 2009

Inácio da Catingueira versus Romano da Mãe d'Água

Inácio
Me tirem de um engano:
Me apontem com o dedo
Quem é Francisco Romano,
Pois eu ando no seu piso
Já não sei há quantos anos.
Romano
Negro, me diga o seu nome
Que eu quero ser sabedor,
Se é solteiro ou casado,
Aonde é morador,
Se acaso for cativo,
Diga quem é seu senhor.
Inácio
Eu sou muito conhecido,
Aqui nesta ribeira,
Este é o seu criado
da Catingueira.
Dentro da Vila de Patos,
Compro, vendo e faço feira.
Romano
Negro, vieste a Patos
Procurando quem te forre
Volta pra trás, meu negrinho
Que aqui ninguém te socorre;
E quem cai nas minhas unhas
Apanha, deserta ou morre.
Inácio
Seu Romano,
em vim a Patos
Pela fama do senhor,
Que me disseram que era
Mestre e rei de cantador;
E que dentro de um salão
Tem discurso de doutor.
Romano
Inaço, que andas fazendo
Aqui nesta freguesia,
Cadê o teu passaporte,
A tua carta de guia
Aonde tá teu sinhô
Cadê a tua famia.
Inácio
Seu Romano, eu sou cativo,
Trabalho para meu sinhô...
Quando vou para uma fest
a Foi ele quem me mandou
E quando saio escondido
Ele sabe pronde eu vou.
Romano
Inaço, deixa-te disto,
Não te possa acreditá
Pois eu também tenho nego
E só mando trabaiá...
Como é que teu sinhô
Vai te mandá vadiá?
Inácio
Inaço da Catinguera,
Escravo de Mané Luiz
Tanto corta com risca,
Como sustenta o que diz!
Sou vigaro capelão
E sacristão da matriz.
Romano
Este aqui é seu Romano
Dentaria de elefante,
Barbatana de baleia,
Força de trinta gigante,
É ouro que não mareia,
Pedra fina e diamante.
Inácio
Inaço da Catinguera
É nego desengonçado:
Abre cacimba no seco
Dá em baixo do muiado...
Aperta sem sê troquês,
Corta pau sem sê machado.
Romano
Romano, o meu martelo,
Por bom ferreiro é forjado;
Tanto ele é bom de aço,
Como está bem temperado;
A forja onde ele foi eito
É toda de aço blindado.
Inácio
Seu Romano, eu lhe garanto
Que resisto ao seu martelo;
Ao talho do seu facão,
Ao corte do seu cutelo;
Se eu morrer na peleja,
Lhe vencerei no duelo.
Romano
Negro criado vadio
Tem por fim acabar má;
Uns casam com mulher forra
Outros dão pra roubá.
Outros fogem do serviço
Com medo de trabalhá.
Inácio
Eu felizmente não sou
Escravo de senhor cru,
Que trabalha todo o dia
De noite faz quinguingu
Aparpando no escuro
Fossando que nem tatu.
Romano
Estou ouvindo as tuas loas,
Não te possa acreditar.
Que eu também tenho escravo
Mas não mando vadiar,
Que eu saio pra divertir
Os negros vão trabalhar.
Inácio
Seu Romano, sou cativo,
Mas trabalho no comum.
Dar descanso a seus escravos
É gosto de cada um
Meu sinhô tem muito negro,
Seu Romano só tem um.
Romano
Pra negro eu tenho chicote
E palmatória e trabuco.
Boto-o na mesa do carro
Passo por cima e machuco
Vadeio de lá pra cá:
Traco-traco! Truco-truco!
Inácio
Seu Romano, meu facão
Também trabalha em seu quengo!
Desmastreio-te a carreira
Como um cavalo de rengo
E vou de uma banda pra outra
Traco-traco! Tengo-tengo!

4 comentários:

  1. esse inácio era ferra

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  2. cidadão eu venho aqi so para refrescar e sua memoria e lhe lembrar que Romano era de Teixeira !!!!!!!!!!

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    1. Romano era de Mãe d'Água, perto de Teixeira - não era teixeirense.

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  3. Essa cantoria é um clássico da cultura popular brasileira. Cadê o restante. Gostaria de ler tudo. Fiquei muito feliz com o aperitivo dessa lendária cantoria.

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